terça-feira, 8 de junho de 2010

Passo a passo com RC

Rossana Honorato

Os anos eram os 80. Um hábito era caminhar à beira-mar do Cabo Branco, não importava a hora do dia. Eram cruzamentos esporádicos. As paradas para um rápido alô se faziam através de uma amizade comum, o amigo Mourão, hoje biólogo, doutor em Zoologia, professor da Universidade Estadual da Paraíba em Campina Grande. À distância, a gente via e já sabia quem vinha adiante, o perfil longilíneo e branquíssimo mais a frente a encontrar.

Já em 1982 o cenário era uma plenária no hotel Tambaú. O “Movimento em defesa da orla” redigia a “Carta de Tambaú”. De texto original à mão e caneta em punho, ia-se ajustando as adequações necessárias ao olhar plural dos segmentos sociais ali presentes. Era meu primeiro contato direto com a professora, ambientalista e ex-vereadora Paula Frassinete, que já avistara vez ou outra de bandeira verde em punho no meio da rua.

A lembrança se funde noutro cenário: Universidade Federal da Paraíba, Praça da Alegria do CCHLA ou Centro de Vivência, onde encontros e plenárias estudantis eram rotineiros.

Uma lauda e meia não é tamanho para fazer uma retrospectiva de como a vida reuniu a gente. A idéia surgiu em trocas no twitter. Lá, a gente se perguntava se ele, o ex-prefeito de João Pessoa por dois mandatos, o ex-deputado estadual da Paraíba por duas eleições, o duas vezes vereador de João Pessoa, sua história política e sua vida de habitante do bairro de Jaguaribe ainda não tinha gerado nenhuma biografia...

Na UFPB o movimento estudantil fervia. Ainda ressabiada com o trágico período da ditadura, a nova juventude brasileira, de língua solta, apreendia a vida sem amarras que o momento começava a permitir, ainda que premido pelas velhas práticas que tentavam manter a história vigiada.

Eu era estudante de Arquitetura e Urbanismo. Tinha lá meus 20 anos e coordenava a reativação do Centro Acadêmico de AU, junto a vários colegas, entre os quais Marco Coutinho. Por isso, terminei integrando o Comando Geral de Mobilização da invasão do gabinete do reitor Jackson Carvalho. Representava o Centro de Tecnologia por indicação do ex-vereador e ex-deputado federal do PT, e hoje PSOL, Avenzoar Arruda, então aluno de Engenharia Civil e ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes.

Na Arquitetura, a gente cobrava qualidade da formação profissional e participação discente nas decisões que revisavam a estrutura curricular. A questão central que motivou a invasão do gabinete do reitor estava pautada, sobretudo, na luta pela reabertura do serviço do restaurante universitário, ação amplamente coberta pelos jornais da época em meados dos anos 80 do século 20.

Era comum avistar Ricardo nesses ambientes. Lá, também, a gente acompanhava a greve de fome dos estudantes pela gratuidade das refeições do RU. Coisa que levou gente como Wilma Cazé, Wagner Spagnul e dois Chico, o Viola e o César, entre outras pessoas que me foge à lembrança, a acampar no Centro de Vivência e dar-se a essa ação.

Foi no início dessa década que o PT foi criado na Paraíba. Eu apenas acompanhava, simpatizante como era chamada a gente não filiada. Assim me acostumei a estar presente em quase todas as suas agendas importantes de rua.

A memória salta para a década de 90. Era ocasião em que RC já estava envolvido com a política parlamentar, já houvera sido candidato. Aí, já éramos convivas e começávamos a interagir em diversos fóruns e nas boas folias de rua da vida.

Lembro também das audiências que acompanharam a redação final do texto oficial do projeto da Lei Complementar nº 02, finalmente publicada em dezembro de 1992, último ato do prefeito Francisco Franca. Lá, a gente se via de repente com a companheirada da luta por moradia e por reforma urbana, na cobertura do Litoral Hotel, para o lançamento do Plano Diretor. Àquela data, o Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal de João Pessoa já lançaria os principais instrumentos da política urbana federal constituída somente em 2001, através da lei nacional nº 10.257, denominada Estatuto da Cidade.

Ricardo era o vereador da gente. Eu militava na reforma urbana e pelas bandeiras da política profissional da categoria dos arquitetos e das urbanistas, que, entre outras coisas, queria bradar nos 04 cantos do Brasil: arquitetura também é cultura!

O Instituto de Arquitetos do Brasil é a organização profissional mais sólida da categoria. Fundado em 1921, esteve presente nas principais lutas pela soberania nacional no século 20, sobretudo no período em que dava esteio a sindicatos e organizações impedidos de reunir-se publicamente.

Aqui na Paraíba, ele nasceu em 1980, mas passou o período de 1989-1993 fechado. Eu e o colega Marco Antônio Coutinho e um conjunto de jovens e antecessoras lideranças da política profissional na Paraíba retomava a intenção de reabilitar o Departamento da Paraíba. Foi o que a gente fez. Eu fui eleita presidente do IAB-PB e Marco Coutinho e outros colegas a forte diretoria que aprumou a entidade até a conquista da bela sede no Largo de São Frei Pedro Gonsalves no Varadouro.

Entra 1993 e lá estava a gente novamente, onde hoje é o Centro de Capacitação dos Professores da PMJP. A Assembléia convocada pela Prefeitura de João Pessoa tinha de eleger três representações das entidades profissionais do recém-criado Conselho de Desenvolvimento Urbano. Compareci na última hora, alertada pelo chamado do vereador Ricardo Coutinho. A sua ação determinada e sua credibilidade foram suficientes para que ele me apresentasse à assembléia e sufragasse o meu nome como uma das representações a integrar a gestão pioneira do CDU.

Dois projetos de lei, entre outros, foram diretamente importantes para o interesse da Arquitetura e do Urbanismo em João Pessoa e na Paraíba. Construídos junto com o vereador RC, uma lei descriminava o concurso público para obras públicas acima de mil metros quadrados; a outra lei dizia que qualquer edificação de médio porte só receberia a carta municipal de “Habite-se” se apresentasse uma obra de porte e significado para deferir a produção local no cenário das artes plásticas da Paraíba.

De outro momento, extraordinário, eu também tive o prazer de participar. A elaboração – a redação coletiva – da Lei Viva Cultura. Instrumento de representação e marco fundador de um novo fazer político na Paraíba e de consagração definitiva da intrínseca relação da trajetória política de Ricardo Coutinho com o meio cultural. Artistas, arquitetas, produtores de cultura se viram refletidos e referendados no “Mandato de todas as lutas”. Lei que se desenvolveu e hoje constitui essencialmente o Fundo Municipal de Cultura da PMJP, como é legítimo e saudável que aconteça com as leis que, aplicadas, ganham longevidade e sustentação como política pública.

De lá pra cá, uma sucessão de outras parcerias, ações conjuntas e muita comunhão na caminhada política de Ricardo Coutinho se firmou. Eram freqüentes os círculos para discutir as ações de seus mandatos que terminaram ganhando a denominação de “Coletivo Ricardo Coutinho”. Do Coletivo passei a integrar a sua assessoria formal a partir da gestão da assembléia Legislativa do Estado.

De 1995 a 99, eu investi paralelamente no curso de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Sociais e, sem que fosse meio de compensação, a presença de Ricardo Coutinho e de Paula Frassinete entre o rol de meus entrevistados em minha pesquisa de campo tornou-se motivo de enfrentamento diante dos rígidos critérios acadêmicos. Em minha cabeça, a relação vital e fluida entre academia e realidade estava prenhe de convicção. Defendi científica e politicamente a permanência de seus nomes entre os formadores de opinião que me ajudariam essencialmente a escrever os livros “A cidade entrevista” e “Se essa cidade fosse minha...”, publicados em 1999 pela Editora Universitária da UFPB. Outro saldo da Lei Viva Cultura, após a seleção pública para o incentivo cultural que lhe possibilitou a realização.

Em 2000, ainda na assessoria do deputado estadual, a gente tomou a iniciativa de organizar, eu, Sandra Marrocos hoje vereadora, e outros companheiros, a festa “RC2000 faz 40”. O nome era uma invenção espontânea sem qualquer lapidação que terminou pegando. A celebração dos 40 anos de RC bombou na recém-inaugurada boate Intoca do Centro Histórico de João Pessoa. E a gente ainda era 13.

De 2004 pra cá o desafio alcançou outra envergadura. A batalha mirou o Executivo Municipal. Eu integrava a equipe que construía o plano de governo através de seminários denominados “Cidade aberta”. Quando fui atropelada pela forçosa ausência de um mês, para mergulhar em livros e conquistar, pela terceira e última vez, êxito no concurso público que me vinculou definitivamente ao quadro docente da Universidade Federal da Paraíba. O regozijo da vitória apontava à seguinte que viria: era hora de mudar a cara de João Pessoa. Felicidade coletiva imensurável! Ricardo Coutinho prefeito! 74% de aprovação no primeiro turno das eleições de 2004.

De 2004 pra cá, a história está fresquinha. O maestro regeu uma orquestra de muitos sonhos. Sonhos que a gente sonhou junto e que viraram realidade que agora sonha com uma Paraíba também de cara nova.

E um novo desafio está posto: organizar a festa RC2.000e10 faz 40+10! Já-já é hora! Porque de desafios após desafios se fez essa história! Facilidade zero, muita luta e vitória. Das vitórias, as realizações!

Simbora, acordar a Paraíba, gente? Ela também merece outra história.

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